Antes da morte, a vida lhe ofereceu um último presente. No fim de 1942, Dietrich Bonhoeffer
conheceu Maria von Wedemeyer: uma jovem de 18 anos, que também pertencia à aristocracia luterana. Ele tinha 36 anos, mas não tinha renunciado à paixão. Quando pôde lhe escrever, lhe disse, "Posso falar simplesmente assim como eu sinto no coração? Eu entendo e estou subjugado pela consciência de que me aconteceu um presente sem igual. Depois de toda a confusão das últimas semanas, eu não ousaria mais esperá-lo, e agora esta coisa incrivelmente grande e alegre está aqui, e o coração se abre e se infla e transborda de gratidão e de vergonha, e não consegue ainda se dar conta deste 'sim' que decidirá toda a nossa vida".
Finalmente, em meio às ruínas da Alemanha, entre os mortos na Rússia, os bombardeios e os campos de concentração e os fuzilamentos, justamente agora, enquanto lhe parecia ter sido expulso da terra, Deus tinha lhe doado um espaço de felicidade sobre a terra. Maria era cheia de frescor, inteligente, sensível. Aguardava as cartas de Dietrich com uma felicidade extrema: esperava-as totalmente sozinha no seu quarto, onde cada livro lhe contava alguma coisa dele.
"Se alguma vez eu pudesse te descrever – dizia-lhe – que festa e que dia de alegria é para mim quando chega uma carta tua... É quase impensável que possa se tornar ainda maior. Talvez seja bom que a felicidade de ter-te se torne perceptível lentamente, senão eu não poderia suportá-la".
Bonhoeffer gostava muito da sua natureza. "Tu – dizia-lhe –, por sorte, não escreves livros, mas fazes, sentes, preenches com a vida real aquilo com o que eu só sonhei. Conhecer, querer, fazer, sentir e sofrer, em ti, não estão divididos, mas são uma grande unidade, e um é reforçado pelo outro. Tu não sabes disso, e isso é a melhor coisa: talvez eu não deveria nem te dizer isso".