Demorou, mas finalmente consegui reunir os elementos para tentar fazer o dossiê de Virgem, uma das músicas mais introspectivas e marcantes da carreira da diva Marina Lima.
"Virgem" foi lançada em 1987 no álbum de mesmo nome, e tem letra de Antonio Cícero, famoso irmão da cantora formado em filosofia e também poeta, eleito em
2017 membro da Academia Brasileira de Letras. O disco foi produzido por Léo Gandelman e teve também dois grandes sucessos: Uma noite e meia e Preciso dizer que te amo.
Como se vê na contracapa, o minimalismo como prefácio da obra, que após Fullgás colocou Marina de vez no hitparade do pop rock.
As coisas não precisam de você
Quem disse que eu tinha que precisar?
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os Dois Irmãos
Também não precisam
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Morro Dois Irmãos e Favela do Vidigal à esquerda
O Morro Dois Irmãos fica no bairro do Vidigal e atrai turistas que desejam seguir pela trilha que leva ao seu topo. Do alto é possível ver toda a extensão das praias do Leblon, Ipanema e Copacabana, a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Gávea, o Cristo Redentor, a comunidade da Rocinha e o bairro de São Conrado.
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O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Primeiro passeio noturno no Rio, vendo ao vivo cenários de novela pela janela do carro, eis que avisto o letreiro luminoso famoso! Ali eu comecei a decodificar a cidade maravilhosa como tema para tantas canções que amo. No ano passado eu vi essa
matéria sobre a reforma do hotel, cujos donos pretendem reacendê-lo em 2021.
Os inocentes do Leblon
Esses nem sabem de você
Trecho inspirado em Inocentes do Leblon, poema de Carlos Drummond de Andrade, e um dos preferidos do compositor. Tudo a ver com a letra da canção...aquela sensação de quem se importa com isto ou aquilo, quem se interessaria por essa história mal sucedida de amor.
"Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes
tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem."
O farol da Ilha
Só gira agora
Essa foi a parte mais difícil de encontrar, mas acredito que a referência seja à Ilha Rasa, situada a 9 km da Ponta da Arpoador. O Farol é mantido pela Marinha do Brasil e foi inaugurado em 1829, sendo
utilizada como prisão política, ali tendo estado detido o catedrático José Oiticica, por ocasião da Insurreição Anarquista de 1918, e novamente durante o Estado Novo. Já serviu de tema para Drummond (“A alma severa se interroga / E logo se cala / E não sabe / Se é noite, mar ou distância / Triste farol da Ilha Rasa”), e é considerado um dos mais privilegiados e inusitados pontos com a melhor vista para a tradicional queima de fogos de Copacabana.
Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse
Outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas
O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Não sabem de você
(Nem vão querer saber)
E o farol da Ilha
Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas
As coisas não precisam de você...