Ninguém acredita nessa história, nessa saga e nem na minha tamanha criatividade, mas vejam só: eu sou assim mesmo, criativa, autêntica e cômica (uma figuraça, como diria Paty Floid). Sempre criamos gatos pela frustração de meu pai não deixar a gente (eu e meus irmãos) criarmos cães. Então, detonamos nossa paixão pelos felinos e aqui em casa já chegou a tal nível que diziam que era uma fazenda de gatos.
Já cheguei ao ponto de levar gato doente em viagem, gato esse em tal estado que o povo do ônibus dizia: sem futuro menina, joga esse gato fora!Isso pra não falar das senhoras da rua que vinham fazer medo a minha mãe, dizendo que teríamos asma e "inpingem". Que nada, fala sério! Pra quem cresceu indo pra roça, tomando leite de vaca, banho de riacho, andando de carro de boi ou cavalo, zelar de um bichano é, no mínimo, algo muito simplório e até aumenta a imunidade.
Mas enfim, voltando para o contexto atual, apareceram 2 gatas na laje da dispensa ferro velho de painho e tive muita dó, porque só tinham o couro, o osso, um grunhido e a vontade de viver. Tão fracas estavam que não conseguiam nem roubar qualquer coisa que eu deixasse na pia. Então, com muita caridade, subi uma escada nada segura pra alimentar essas gatas. Daí elas chamaram mais 2 gatos, mais esquálidos ainda, na mesma petição de pobreza. Haja comida, leite, ração de R$ 1,50 e nada dos gatos se reconstituírem, até que num belo dia de sol, observando aquela imagem, pensei direitinho e num lampejo de inteligência dei um nome pra cada um: Miséria, Penúria, Anemia e Desnutrição.
Atualmente, Anemia e Desnutrição não andam mais pedindo comida e eu prefiro acreditar que eles tiveram alta, mas Penúria e Miséria continuam amigas como tem que ser. Só que Miséria, mesmo nesse estado, obedecendo a seus instintos, conseguiu engravidar e, quando descobrimos, já estava carregando seu filhote pela boca, escondendo da gente. Tentamos ajudá-la, dando um leite especial, lascas de carne para ela ter condição de, ao menos, amamentar o filhote. Ela tentou, mas não contrariando seu nome, a miserável acabou abandonando o filhote, que nós, por compaixão, adotamos. Daí, pensei: se esse inocente filho da miséria sobreviveu e está cada dia mais fofinho, com seu pelo branco rajado e olhos azuis, só pode ter 3 nomes: Fartura, Prosperidade ou Abundância. Abrimos para votação e venceu Farturinha, que anda crescendo vertiginosamente, pois já está um gatinho adolescente. Como ele foi desmamado, é um gato muito carente que adora ver TV enroscado nas minhas pernas e tem até me feito companhia quando fico até tarde no computador.
Ultimamente, sob meu treino e incentivo, tem se revelado um exímio jogador de bolinhas e tampas de garrafa PET, e tem se destacado nas modalidades: mordidas atrozes, saltos mortais da escada (Farturinha dos Santos), corrida normal (Farturinha Jóquei), de obstáculos (debaixo da mesa) e escalada (Farturinha Aranha). Estou pensando seriamente em inscrevê-lo nas Olimpíadas e, quiçá, na Copa, se é que os estádios ficaram prontos para ter a honra de receber Farturinha, o Fenômeno!!! Ah! E pra quem não acreditou nesse história, veja aí quem são Penúria e Miséria:
PS: Na semana passada, o pai de Farturinha apareceu para tentar uma aproximação com o filho, mas estamos negociando as regras das visitas.