segunda-feira, 18 de junho de 2012

DO THE BEST YOU CAN!



"Era uma vez, numa terra muito distante, uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima. Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico. Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre.

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma: - Eu, hein?... nem morta!" (Luís Fernando Veríssimo)

Esse conto moderno é muito bom para refletir, divagar, comentar sobre as escolhas de cada um. Tenho ouvido ao longo dos anos do meu interstício juvenil pessoas reclamando, lamentando o fato de terem se casado, ou terem sido mães muito cedo ou terem se dedicado menos aos livros.

As escolhas quase sempre são feitas sob pressão 1 atm (ao nível do mar) ou no vácuo (pressão zero), nem mais nem menos, mas fico triste ao ver colocações depreciativas, principalmente da parte dos casados, que muitas vezes fazem uma propaganda negativa do casamento, mas não arredam o pé da relação nem que a vaca tussa: falam da dificuldade de criar os filhos, mas se desmancham de gosto quando o filho aprende uma nova palavra; falam das dificuldades financeiras, mas no fim das contas dá tudo certo e lá estão a se divertir com seus parceiros na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

O pior é quando começa o momento projeção (se fosse de filme era bom!), seguido de alertas que não me servem de nada. "Olha só, aproveite agora que você é solteira para conhecer o mundo, fazer suas viagens, porque quando você for mãe não poderá mais", ou "aproveite para dormir agora, porque quero ver como vai ser quando você for mãe" (e eu recorro aos bons modos para não responder que poderei pagar 2 babás quando e se isso acontecer!). Tem ainda o grupo das pessoas que acham que eu estou solteira porque estudei demais, mas para me consolar dizem: "bem fez você que estudou e agora está aí com tudo, mas vê se arranja alguém, você merece ser feliz". Sinceramente, se eu fosse responder à altura, amizades teriam sido desfeitas e pessoas até hoje estariam no psicólogo com o som das minhas respostas ressoando nos ouvidos. Antes eu ficava chocada, mas hoje não movo um só esforço para respondê-las: simplesmente fico em silêncio, porque para perguntas ou colocações desse nível eu não tenho palavras que atinjam o mesmo grau de inteligência.

Existe ainda uma lenda de que as pessoas solteiras tem mais tempo livre e podem assumir mais compromissos na igreja, no trabalho ou ser o burro de carga da família. Eu costumo elogiar minhas amigas e colegas de trabalho e compreendo suas rotinas de mãe-esposa-profissional, mas cada uma fez suas escolhas e na hora de assumir tarefas eu só as assumo se forem interessantes para mim. Se eu uso meu tempo livre para dormir, ver filme, sair ou praticar o nadismo é problema meu, exclusivamente meu e não minha culpa, minha tão grande culpa.

Na termodinâmica, o sistema realiza trabalho ou trabalho é realizado sobre o sistema, a depender do calor adicionado ou removido ao mesmo, resultando numa variação de energia interna negativa ou positiva. Do mesmo modo, na vida escolhas são feitas e desafios são adicionados à rotina, como fazer uma faculdade, casar, ter filhos (não necessariamente nessa ordem!) e isso pode gerar satisfação no balanço final. Ou ainda, fatos ocorrem que levam a gente a seguir um caminho muitas vezes não programado, o que pode trazer satisfação também, desde que se procure ver o que há de bom, o que se pode colher de positivo. Há ainda uma situação em que calor não é trocado, mas ainda assim existe variação de energia interna mensurável, ou seja, de tudo se aproveita algo.

Em suma, há uma expressão bem boba e conhecida dos filmes americanos em que um pai diz ao filho: "se a vida lhe der um limão, faça uma limonada!" Seja uma limonada, uma mousse, uma tortelete, um bolo Huck (à la Dona Márcia), a escolha do que fazer com o limão é de cada um. 

3 comentários:

  1. Muito interessante essa analogia entre a termodinâmica e a vida. Porém, não podemos esquecer da cinética, pois não adianta o deltaG ser negativo e a cinética ser lenta. Abraços,

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