quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A BOSSA CONTINUA NOVA



Em 21 de novembro de 1962, às 20h30min, a Bossa Nova fez sua estreia no famoso Carnegie Hall em Nova Iorque, através do americano Sidney Frey - nome por trás da gravadora Audio Fidelity -, para mostrar um tal balançado da New Brazilian Jazz, como os americanos gostavam de dizerAlém de conhecer as músicas de Tom e de Luiz Bonfá para o filme "Orfeu do Carnaval" (1959), Frey esteve no Rio e travou contato com a cena do Beco das Garrafas, no Rio. Até então, o gênero tinha aparecido na trilha do filme "Orfeu do Carnaval", que o francês Marcel Camus rodou no Rio em 1959, e em um sucesso inicial de Tom nos Estados Unidos -"Corcovado" foi um hit no país em 1962. Antes disso, música brasileira era sinônimo de Carmem Miranda e seus balangandans folclóricos.

A primeira intenção dele era promover um show com Tom e João Gilberto, mas depois veio a decisão de levar mais gente. Frey conseguiu algum apoio do Itamaraty, que contribuiu para a viagem dos músicos e, em troca, distribuiu café brasileiro durante o show. Além de Tom, João Gilberto e Luiz Bonfá, que começavam a ser conhecidos pelos americanos, o show teve o Oscar Castro Neves Quarteto, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Chico Feitosa, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Normando Santos, Dom Um Romão, Agostinho dos Santos, Carmen Santos, Bola Sete e Ana Lúcia.  Na plateia de 3.000 pessoas estavam pesos-pesados do jazz, como Dizzy Gillespie, Miles Davis, Gerry Mulligan, Tony Bennett, Cannonball Adderley, Herbie Mann e The Modern Jazz Quartet. Tom, cada vez comentado na comunidade musical, era o ímã para essas estrelas. 

Por sua vez, a imprensa brasileira fez pouco caso e foi muito cruel na cobertura, exagerando nas piadas. O fato é que era esperado um verdadeiro desastre na apresentação dos brasileiros, coisa que preocupava principalmente Tom Jobim, João Gilberto e Luiz Bonfá, nomes que já corriam por ouvidos estrangeiras. Tanto é verdade que Tom Jobim só embarcou depois de ser enfiado à força dentro de um avião pelo amigo e escritor Fernando Sabino: “Você vai vencer, Tom”.

A revista "The New Yorker" pegou pesado, numa matéria com o título "Bossa, Go Home". John S. Wilson, crítico do jornal "The New York Times", atacou a floresta de microfones, numa amplificação que teria deixado tudo monótono. Para ele, os cantores tinham pouco a oferecer, exceto Gilberto e Bonfá. Mas dois momentos encantaram por unanimidade: Tom, com "Samba de Uma Nota Só", e João Gilberto, que aguardou silêncio absoluto para cantar "Samba da Minha Terra". Além disso, alguns dias depois, eles se apresentaram na Casa Branca e até a primeira-dama se encantou pelo estilo.

Após essa emblemática noite, a Bossa Nova ganhou o mundo de vez e rompeu as suas fronteiras territoriais através de inúmeras gravações do repertório made in Brazil Copacabana, tendo a canção Desafinado 11 gravações nos EUA naquele ano, sendo uma delas com tiragem de um milhão de discos. Durante anos, o áudio do espetáculo (fita-pirata) permaneceu como moeda rara nas mãos de colecionadores. Hoje em dia já é possível ser encontrado em versões modernas de gravação, com o charme dos aplausos e todo o resto de um show ao vivo, mas a dificuldade de encontrar é a mesma. 

O fato é que a Bossa Nova este ano completa 60 anos de existência e Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlos Lyra continuam na ativa e influenciando novas gerações de artistas, especialmente fora do Brasil. Como diz a canção Nostalgia da Bossa, Bossa Nova é uma canção de amor demais.






A tradução do encarte encontra-se AQUI.




Nenhum comentário:

Postar um comentário