“Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim…” (Clarice Lispector)
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sábado, 6 de julho de 2019
R.I.P JOÃO GILBERTO
Hoje o Brasil perdeu um gênio que influenciou gerações de artistas com sua batida diferente, um baluarte da Bossa Nova que fez a música brasileira ganhar o mundo. Perfeccionista e cheio de manias, adorado por uns e aturado por outros, João Gilberto era de uma originalidade intransferível e impossível de ser plagiada. Chegava a cismar com alguns colegas do meio e tapava a posição do violão para não ser copiado.
Mesmo com sua timidez e posterior reclusão severa, todos os livros sobre Bossa Nova são escritos em torno do mito. Neles sempre há depoimentos de grandes nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Marcos Valle, Gal Costa contando onde estavam e o que sentiram quando ouviram Chega de Saudade pela primeira vez. Talvez nem ele soubesse onde tão longe iria chegar e sem perceber foi imprimindo sua marca indelével nas canções que (re)gravou.
Ronaldo Bôscoli, que ele apelidou de Ronga, conviveu com o mestre e fez o seguinte relato em seu livro de memórias Eles e Eu:
"O que sempre impressionou todo mundo em João Gilberto foi sua inteligência e seu estilo. Eu diria que João tem um estilo de ser inteligente. As suas concepções, sua capacidade de criar um diálogo - João não fala palavrão e usa pouquíssima gíria -, o seu baianês, a sua capacidade de síntese, de explanação são impressionantes.
Num dia de carnaval, perguntei a João pela primeira e única vez:
- Afinal, João, de onde é que você tirou essa sua batida de violão?
- Deve ter sido quando eu era menino em Juazeiro. As lavadeiras levavam roupa no cesto para lavar no rio e desciam até lá com um suíngue danado. Eu tapava os ouvidos e só ouvia aquele negócio, squintim, squintim...A cadência sincopada das lavadeiras me inspirou esse ritmo da Bossa Nova. Acho que foi por aí...
É, deve ter sido, João..."
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Lindo texto, Flávia! Hoje "a tristeza e a melancolia não sai de nós, não sai"... E com toda razão. Que presentes de músicas esse artista nos deixou, hein?!
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