segunda-feira, 26 de abril de 2021

VIAGEM ANTIGA


Estava flanando na web quando me deparei com o poema de Mário Quintana que intitula essa postagem. 

Aqui e ali

reses pastando imóveis
como num presépio

a mata ocultando o xixi das fontes

uma cidadezinha de nariz pontudo
furava o céu

depois sumia-se lentamente numa curva

e a gente olhava olhava
sem nenhuma pressa
porque o destino daquelas nossas primeiras viagens
era sempre o horizonte

Lembrei das viagens para a casa dos avós, das tias e das comadres. Ainda tem um quadro na casa de Tia Eva que me lembra muito essa imagem furtada de outro blog. As cercas de pedras, a estrada de terra, as cancelas, as árvores e pastos. Eu jurava que conseguiria pegar vagalumes e concluí enfaticamente na época da alfabetização que o carneiro já sabia a sílaba "be". A caça aos ovos de galinha era uma aventura sem fim, ovos azuis e verdes diferentes dos brancos da cidade. De repente, a avó chamava ao fogão para mostrar que um deles tinha magicamente duas gemas. O leite ordenhado cedinho, passeios de carroça de boi e banho de riacho quando a chuva abençoava a plantação.

Quando o vento assobiava na serra eu ficava atenta à possível passagem do Saci ou da Caipora, pois com certeza eles deviam andar por ali também. Vovô contava histórias desse gênero à luz do candeeiro, com nós todos sentados aos seus pés enquanto ele se balançava na cadeira de balanço. A briga pelo prato de estanho, a mão traquina a remexer tudo que estava na penteadeira, as revistas de telenovela ou o livro da família. Detalhe: uma avó era mais culta, enquanto a outra mais liberal. Experimentava dois mundos com regras distintas, mas cheios de mimos e ternura.

 

terça-feira, 20 de abril de 2021

PARA SEMPRE, TIÁ!

"Longe daqui
Onde tu estás
Onde vai a canção
Vou ficar pensando em ti
é impossível não ter saudade..."

E quem te conheceu não esquecerá, nossa Tiá como era carinhosamente chamada pelos sobrinhos. Quando o telefone tocar à tarde não ouvirei mais sua voz pra dar um alô só pra saber como estamos. Ficam as lembranças dos bordados, dos almoços, dos risos e das lágrimas, dos dramas que só nossa família conseguia fazer pra depois fazermos aquela resenha. 

Tua presença não morrerá como seu corpo, matéria que a Covid levou, lhe retirando do nosso convívio assim subitamente...todas as homenagens não serão suficientes pra mostrar ao mundo o quanto você era amada e continuará sendo.