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Decalcomania (1966) - René Magritte
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"Para termos novamente o controle, às vezes precisamos abandoná-lo."
(Episódio 3x04 - Revenge)
Deixar pra lá, esquecer, abandonar... quando conseguimos uma vitória com muito esforço sempre são exaltadas a dedicação e a persistência. Mas há coisas em que o esforço soa como anti-natural, como algo forçado, meio que obtido por osmose. Na osmose, o solvente passa do meio menos concentrado para o mais concentrado através de uma membrana semi-permeável. Diz o ditado que água mole em pedra dura tanto bate até que fura... humm, nem tanto assim!
A persistência serve para muitas coisas e fazer as coisas até o fim forja a maturidade. Completar tarefas sempre me dá prazer, muito mais que iniciá-las. Aprender que nem tudo se resolve, se conclui, se conquista ou se encerra é algo que hoje procuro encarar sem dramas. As tempestades, de fato, após 3,5 décadas não se formam mais em copos d'água, as feridas não se reinflamam mais só com um leve toque. Até mesmo a tecnologia tem sua sabedoria quando diz "não foi possível completar a sua ligação" e nos faz esperar mais um pouco.
Obras inacabadas também tem valor, diários incompletos também são publicados e, como canta Beto Guedes, abelha fazendo mel vale o tempo que não voou. No fim de sua vida, a famosa escritora Clarice Lispector doou-se por inteiro e escreveu até a véspera de sua morte a obra Um Sopro de Vida, de onde extrai essa pérola, que me ensinou que desistir, às vezes, é mais prudente do que insistir.
"Saber
desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador.
A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a
situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir
jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem
teimosamente esperando que aconteça alguma coisa?(...) Eu não quero apostar corrida comigo mesmo. Um fato."