segunda-feira, 31 de março de 2014

OÁSIS DE JORLANE #3: CHUVA

 

"Chove chuvaaaaa, chove sem parar!" Eu amo chuva, especialmente se for acompanhada de raios, trovões e relâmpagos daqueles que nossas avós mandavam cobrir os espelhos e não sair na rua com nada de metal. As chuvas inspiraram musicais, poemas e um sem fim de canções apaixonadas, alegres ou melancólicas. Tenho saudade dos banhos de chuva que tomei na infância e hoje só admiro o espetáculo da janela, porque sei dos perigos que existem quando alguém está ao ar livre sob forte chuva. Mas mesmo assim gosto demais de chuva, desde as fininhas até as caudalosas, daquelas que geravam mini-córregos onde eu colocava objetos para vê-los descerem ladeira abaixo.

Para quem mora no nordeste, a chuva carrega uma atmosfera que vai desde o "humm, cheiro do chuva...tá vindo chuva por aí" até o sol desenhado no chão pelas crianças quando retornam à rua querendo brincar, depois de admirarem os plic plocs nas poças d´água. Quando os compadres se encontram, tão importante quanto avisar que alguém nasceu ou está doente, é avisar que choveu lá pras bandas de tal lugar. Basta uma chuvinha boba para as estradas se transformarem com uma vegetação de encher os olhos de esperança de qualquer nordestino, especialmente os que vivem da terra.

Eu sei que as chuvas causam estragos terríveis, mas geralmente são bem vindas, desde que nas devidas proporções. Se falta chuva, é problema nacional; se chove demais, também. Ela é polêmica, esperada, desejada, profética, temida, passageira ou avassaladora. Não fosse a interferência destrutiva do homem, muitos dos estragos causados por sua queda livre não seriam injustamente atribuídos a ela. "São as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no meu coração, e o desejo que esse ano caia muita chuva no sertão, para sangrar barreiros e dar farta colheita.

quarta-feira, 19 de março de 2014

REBOBINE


Existem invenções hoje presentes na minha vida que já existiam nos meus sonhos há muito tempo atrás. E se existe uma coisa que eu sonhei na vida e aconteceu foi um monte de coisa boa relacionado ao ouvir músicas e ler/entender/traduzir as ansiadas lyrics. Fita K7 Basf ou TDK? Haja lápis ou caneta pra rebobinar! Cabeçote limpo e paciência eram necessários para copiar as fitas com músicas "internacionais" (tenho uma tia nacionalista que só gravava nacional,rs). Graças ao advento da internet podia enfim acessar alguns megabytes quase à manivela e imprimir as letras na impressora matricial da universidade, graças a amizade com Georgia, que estagiava e nas horas vagas navegava no PC do departamento e partilhava esses achados comigo.

Nos anos 80 e 90, praticamente só da classe média em diante tinha acesso à compra de discos, sendo o rádio e as fitas a solução mais barata para termos em casa os sucessos do Globo de Ouro, das novelas e do Chacrinha. As músicas eram contadas, selecionadas e as fitas tinham capacidade de + ou - 1h de diversão, interrompido pela troca ao fim do primeiro tempo,rs. Pagávamos para a moça da loja de discos gravar as músicas, caso as tivesse. Quando lançaram o som com dois "deks", foi o máximo! Era o boom da independência a gente poder copiar as fitas, gravar dos discos, depois dos CD's e para por aí! Com os CD's por toda parte e acessíveis aos bolsos menos endinheirados, a oitava maravilha do momento decretou a aposentadoria às saudosas e imprescindíveis fitas. Chegaram os discman's, a pirataria e foi o adeus ao toca-fitas do carro.

A modernidade deixou-nos famintos de mais novidades e mais um tempinho após esse fenômeno os computadores chegaram em massa às universidades (onde eu sempre tive mais acesso) e aos lares, com programas que lentamente, mas eficientemente gravavam nossas seleções preferidas. Os programas de baixar mp3 bombaram, um trocinho que era a cópia pré-histórica chinesa do i-pod se manifestou em ônibus e vans e logo vieram os pen drives de 1Gb, substitutos arrasadores do disquete e do zip. Pronto, acabou! Ainda não...E o meu sonho de ouvir música o quanto quisesse e de ler as lyrics simultaneamente? Com toda essa rave tecnológica, as rádios migraram para a internet e pude parar de brigar com as antenas do meu CCE, que hoje longe de interferências informa a painho através de AM e FM todas as notícias da cidade e o embala à noite em seus cochilos na rede. Enquanto isso, um andar abaixo, estou agora no Grooveshark, mas posso ir ao Kboing, Letras Terra, Youtube, JB FM, Soundcloud e garimpar as raridades que eu pegava de ouvido e anotava na agenda correndo pra não esquecer. Das fitas só tenho algumas amostras com capas personalizadas e tudo, para não esquecer do tempo em que ganhar uma fita era tão importante quanto aprender uma nova canção.


domingo, 16 de março de 2014

COM QUE ROUPA EU VOU?


Recentemente foi divulgada a repercussão que a postagem de uma professora universitária causou sobre um cidadão no pequeno aeroporto Santos Dumont-RJ, estando a mesma incomodada com sua vestimenta, pelo visto não tão glamourosa e adequada para o airport zona sul carioca. Isso me fez relembrar vários episódios em que fui julgada pela minha vestimenta ou aparência, e não pelas qualidades, ações e perfil nesse mundo globalizado.

Cresci ao lado de parentes que sempre acharam que se vestiam muito bem, mas como meus pais tiveram 04 filhos e não são ricos, vestir os filhos adequadamente nem sempre acompanhou o luxo e consumo da moda. Apesar disso, eu sempre me sentia bem com minhas roupas, não fossem os comentários desagradáveis de parentes que adoravam uma comparação e ostentação. Certo dia, acompanhando uma prima à casa de uma colega de escola, ao chegarmos na porta da casa da cidadã, a mesma nos recebeu dizendo: "me desculpe atender você assim de havaianas, mas é que eu só uso para dar banho nos cachorros" (eu me tornei a acompanhante invisível). Como eu estava com as míseras havaianas, hoje elevadas a item indispensável em displays de aeroportos e nas mais variadas lojas de departamento, travei na calçada e me senti muito constrangida por entrar o mínimo possível na casa dela. Alguns anos mais tarde eu soube que ela e a mãe perderam todo o glamour com a falência do pai e o corte da pensão.

Sei que a roupa abre caminhos, inclusive para ladrões, que a boa aparência é um bom requisito, mas desde quando existe roupa para frequentar aeroporto? No post da professora o cidadão foi chamado de Mr.Rodoviária. Quer dizer então que nas rodoviárias só tem gente mal vestida e classe C? Nas minhas viagens já vi de tudo, inclusive gente mal educada e mal cheirosa. Já vi muito artista viajando com roupas confortáveis e bem comuns e já vi gente com mania de grandeza, toda no ouro para enfrentar 02 horinhas de voo e comer um biscoito rachado e um copo de suco de laranja artificial. Já vi muito gringo com aquele cheiro de quem tomou banho no país deles antes do embarque, super à vontade em Eunápolis, próximo a Ilhéus, com hábitos que enojariam qualquer brasileiro. Mas se eles estivessem no Santos Dumont certamente seriam bem vistos por estarem trazendo euros à cidade maravilhosa.

Em tempos de inversão de valores e consumismo descontrolado, onde ter é cada vez mais importante que ser, até onde uma roupa denota o caráter? Será que um par de sapatos vale mais que o salário pago à empregada? Será que a maquiagem, brincos e perfume importado também visitam o dentista a cada 06 meses? Será que a combinação de cores e estampas também conversa com as atitudes e o modo de ser?

sábado, 15 de março de 2014

SONHO DE CRIANÇA



Toda criança tem sonhos e João não poderia ser diferente. Como ele é o caçula de 03 irmãos, quer se meter em todas as brincadeiras e conversas que nem gente grande e sempre, mas sempre mesmo, entrega as aventuras dos irmãos para o pai.E foi nessa esperteza toda que dia 13, assim que acordou no dia do seu aniversário, procurou a mãe e disse: "ei, tu disse que quando eu tivesse 4 zano eu podia ir na padaria sozinho". Mal ele sabe que com o passar dos anos seus sonhos irão muito além da próxima esquina,rsrs.

quarta-feira, 12 de março de 2014

BLESSINGS IN DISGUISE

A tradução dessa expressão que mais se aproxima do nosso dito popular é "há males que vem para o bem", mas meu amigo Nery me apresentou a mesma como "bênção disfarçada". Portas que não se abrem, travadas e cheias de cadeados com senhas que podem nos levar a enxergar janelas escancaradas e cheias de sol; um "não" que pode virar um sim; empecilhos ou sapos difíceis de engolir...tudo isso, toda demora, toda obstáculo pode fazer parte da grande trama de uma blessing in disguise.






sábado, 8 de março de 2014

COM LICENÇA POÉTICA

 
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
(Adélia Prado)
 
PS: Jana, esse poema é a sua cara e vc não poderia ter nascido em dia mais apropriado! Feliz aniversário de suas amigas baianas!!!