segunda-feira, 9 de novembro de 2015

BLACK MIRROR


Em um mundo atualmente regido por CTRL C CRTL V, plágios, retuitado e compartilhado, ser nós mesmos virou questão de urgência e emergência.  A mesmice é tamanha que a gente chega a ficar confuso e não sabe mais de quem é a autoria das coisas e dos fatos. A cópia da cópia é tão comum que o original virou relíquia duvidosa.

Moda vai, moda vem, surgem as comparações, porque do mesmo jeito que se luta por autenticidade, por ser "você" mesmo, surge o incômodo com o novo, o diferente. Às vezes, esse estranhamento é individual, uma carga pontual com RG e CPF, mas na rede pode virar algo coletivo. O bom senso sofre uma queda brusca pela intenção, ou mesmo tentação, de passar adiante injúrias, ofensas, imagens de gente morta ou de gente nua. É nessas horas que resisto a ter o aplicativo universal atual (até que outro mais bonitinho surja!), porque fico pensando: "E se fosse um parente querido, qual seria a graça de encaminhar a imagem de um acidente, de fotografar um corpo que teve sua vida ceifada por um terrível acidente?". Isso aconteceu recentemente com um parente meu. O descaso e a indiferença curiosa das pessoas fez com que isso acontecesse sem que ninguém passasse adiante e barrasse a ação dos populares. Também fiquei boquiaberta quando vi um primo pedir para ver meu avô no caixão pelo Skype. Ahn? Quem? Cuma?

O virtual se confundiu completamente com o real, e isso é crônico. Já existem tratamentos para os males da internet e seu uso desordenado. Há pessoas que acendem velas virtuais e que rezam/oram diante do computador, ou as que, mesmo produtivas, perdem seus empregos viciadas em jogos. Há pais que se comunicam com seus filhos dentro de casa pelo celular, sem falar das pessoas que sofrem com o "visualizou e não respondeu" ou com o horário de acesso do provável pretendente. Tudo ficou muito rápido e fugaz, frio e volátil, indiferente à dor alheia ou sensível por alguns segundos, aqueles mesmos segundos usados para encaminhar para o maior número de pessoas possível aquela notícia sem filtro que faz de você apenas um usuário da rede, sem identidade e muitas vezes sem noção.

Uma vez um amigo do amigo me disse: quando essas coisas aparecem na humanidade, a primeira geração apanha; a segunda geração começa a engatinhar e a terceira geração começa a fazer uso correto da nova tecnologia. Assim, eu torço para que as pessoas voltem a se comunicar com frases mais longas, que voltem a discutir cara a cara, que olhem nos olhos e sintam tudo que há como deve ser.

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