sexta-feira, 15 de abril de 2016

DESPEDIDA


"E, quando regou a flor pela última vez e se preparava para abrigá-la sob sua redoma, sentiu-se com vontade de chorar.
- Adeus - disse ele à flor.
Mas ela não respondeu.
- Adeus - ele repetiu.
A flor tossiu. Mas não era por causa do seu resfriado.
- Fui tola - disse-lhe por fim. - Você me perdoa? Trate de ser feliz.
Ele ficou surpreso pela ausência de censuras. Continuava ali, desconcertado, a redoma no ar. Não compreendia aquela suave serenidade.
- Mas claro, eu amo você - disse a flor. - Você nunca soube, por culpa minha. Não tem importância. Mas você foi tão tolo quanto eu. Trate de ser feliz...Deixe essa redoma em paz. Não quero mais.
- Mas o vento...
- Não estou tão resfriada assim...O ar fresco da noite me fará bem. Sou uma flor.
- Mas os animais...
- Tenho de tolerar duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas. Parece que são lindas. Senão, quem virá me visitar? Você vai estar longe. Quanto aos animais ferozes, não tenho medo. Tenho minhas garras.
E mostrava ingenuamente seus quatro espinhos. Depois acrescentou:
- Não se demore tanto, é irritante. Você decidiu ir embora. Vá.
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa..."
(Antoine de Saint-Exupéry)

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