sábado, 19 de novembro de 2016

SAINDO À FRANCESA


Minha amiga Soberana publicou recentemente em seu blog uma frase na qual me encontro inteira: "Eu me excluo quando percebo que não faz diferença eu estar ali ou não". Isso me lembrou a expressão "sair à francesa", algo que faço quase que incorrigivelmente. É tão voluntário quanto o ato de uma criança que larga um brinquedo e vai brincar com outro, ou volta para junto da mãe quando numa festinha ou reunião de família percebe que não foi convidada para a brincadeira com as crianças presentes.

Quando criança isso acontecia bastante na escola, e tirando a rejeição natural que toda criança normal sente, me contentava em ficar olhando a brincadeira de longe, ou fazia pior: fugia da escola e ia comer a merenda em casa, onde ainda via um pouquinho de sessão da tarde. Como morava na mesma rua, o vigia nem percebia e, mesmo sendo 20 minutinhos, era um momento para eu respirar feliz, longe de tudo e de todos. Não era sempre, mas era um hábito.

A partir da quinta série ficou mais complicado. Tinha que andar em um pequeno grupo que fazia parte de um projeto, pegar ônibus para ir à escola e já era uma época de, naturalmente, fazer mais amizades. Mas aos 13 anos, no final do que hoje chamamos de Fundamental II, fugia para a biblioteca. Quando minhas colegas me procuravam, lá estava eu folheando os livros ou repetindo a merenda com a fila já vazia, e o pátio também. .

Mas a expressão sair à francesa vai muito mais além, e casa perfeitamente com meu temperamento INFJ, ou como costumo brincar "dentro de Flávia Jorlane". O hábito vem de precisar renovar as energias, se sentir exausto em meio a muitas pessoas, mesmo sendo queridas. Por isso, a aversão a grandes festas, onde é preciso cumprimentar muitas pessoas, dar atenção, etc. Chega uma hora que a vontade é sair de fininho e deixar o povo lá se divertindo, gente diferente de mim, que me canso facilmente da multidão e das convenções. Quando o grupo de amigos é pequeno, até parece fácil, desde que alguns não estejam "etilisados" e comecem aquela choradeira e abraço vai, abraço vem, role aquele momento "quando a bebida entra a verdade sai", e aí fique ainda mais difícil cair fora.

Na verdade, o meu sair à francesa também é um recurso para evitar despedidas, especialmente aquelas bem difíceis. No caso das triviais ou cotidianas, tento ser educada e pronto. É um exercício diário, e com isso vem a coleção de explicações, que quanto menos forem, melhor. Se preciso for, serei a top of master da diplomacia, mas podendo sair discretamente, saio sim e feliz da vida, sem perder a pose nem a compostura.


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