sábado, 31 de março de 2018

ESTAÇÕES NO CAMINHO PARA A LIBERDADE

DISCIPLINA

Se saíres em busca da liberdade, aprende, antes de tudo,
disciplina dos sentidos e de tua alma, para que os desejos
e teus membros não te levem ora para cá, ora para lá.
Casto seja teu corpo e teu espírito. plenamente sob teu domínio
e obediente na procura do alvo que lhe foi colocado.
Ninguém experimenta o mistério da liberdade a não ser pela disciplina.

AÇÃO

Não qualquer coisa, mas o correto deve ser feito e arriscado;
não se deve flutuar no possível, mas agarrar valentemente o real;
a liberdade não está no vôo dos pensamentos, mas tão-somente na ação.
Sai da medrosa hesitação para a tempestade dos acontecimentos,
sustentado apenas pelo mandamento divino e pela tua fé,
e a liberdade acolherá teu espírito com júbilo.

SOFRIMENTO

Maravilhosa transformação. As mãos fortes e ativas
estão amarradas. Impotente e solitário, vês o fim
de tua ação. Não obstante, respiras aliviado e colocas o correto
tranqüila e confiantemente em mãos mais fortes e te dás por satisfeito.
Só por um momento tocaste, feliz, a liberdade,
entregando-a então a Deus para gloriosa consumação.

MORTE

Pois vem, festa máxima no caminho para a eterna liberdade;
morte, destrói as fatigantes correntes e muralhas
de nosso corpo passageiro e de nossa alma cega,
para que finalmente vislumbremos o que nos é negado ver aqui.
Liberdade, procuramos-te longamente em disciplina, ação e sofrimento.
Morrendo, te reconhecemos agora na face de Deus.


Por Dietrich Bonhoeffer
Tradução de Helberto Michel
Extraído de: Bonhoeffer, Dietrich. Ética. São Leopoldo: Sinodal, 2005.

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