No véu tênue da manhã, Flávia caminha
Pelo jardim da ciência, onde as flores são fórmulas,
Onde os ventos sussurram segredos de átomos.
A mente dela, um oceano calmo, reflete
A Tabela de Linus Pauling, onde números dançam,
Um balé de eletronegatividade, de força invisível.
Entre magnólias e marfim, Flávia contempla
O paradoxo da matéria, que não é só massa,
Mas atração e repulsa, amor e aversão.
Ela lê os números como se fossem versos,
Cada valor uma nota, uma vibração no ar,
Contando histórias de ligação, de desejo atômico.
Óxidos e halogênios, todos têm sua canção,
Um coro sutil de atrações, de amores elementares.
Ela vê o hidrogênio, tão leve, tão solitário,
Mas com um poder de atrair, de unir,
Assim como as palavras unem pensamentos,
Em um mar de elétrons, as distâncias encurtadas.
Flávia, na serenidade do jardim, compreende
Que não há solidão nos átomos, mas um constante
Anseio por ligação, uma dança cósmica
Escrita nos números de Pauling, na tabela que ela estuda
Com olhos de poeta e coração de cientista,
Sentindo, na essência dos elementos, a essência de si mesma.
Assim, entre cálculos e flores, ela descobre
A beleza do invisível, do que não se vê mas sente,
Uma harmonia silenciosa que une tudo
Neste universo de força e fragilidade.
(Victor Venas)