sábado, 18 de março de 2017

ELA NÃO GOSTA DE CINEMA


(*) Quando digo que não gosto de ir ao cinema, recebo olhares que misturam espanto, reprovação e pena. Eu mesmo devo ter misturado estes três ingredientes quando li que o poeta João Cabral de Melo Neto não gostava de música. Ou quando ouvi Maria Bethânia dizer que não gosta do pôr do sol (segundo ela, é uma hora "nem barro nem tijolo"). (Humberto Gessinger)

Na minha cidade, muitas pessoas reclamam da falta de um cinema, e eu me pergunto: quantas delas realmente manteriam um cinema numa cidade do interior? E olha que havia um cinema na minha infância, onde fui a várias matinês ver O mágico de Oz ou algum lançamento dos Trapalhões. Hoje com internet, netflix, home theater e televisão de não sei quantas polegadas tudo se transformou muito rápido, e finalmente temos o "cinema em casa" que Sílvio Santos profetizou em tempos remotos e que a gente teve por um período com as locadoras e os vídeo-cassetes.

Conto nos dedos as vezes na vida que fui ao cinema, e essa é a última opção de diversão quando vou a uma capital, porque ainda tenho a opção de ver TV a cabo no quarto do hotel, mudando de canal se eu não gostar da programação. De fato, a sala escura, a escolha da cadeira, aquele som alto e um monte de gente juntas num lugar fechado comendo cheetos ou pipoca não me atraem.

Gosto de tudo que eu posso reger, pausar, rever, adiantar, controlar, já que a maioria das coisas são/estão fora do meu controle. Não posso prever se o filme será ruim ou bom, lento ou veloz, morno ou apaixonante, ou ainda se fará jus aos comentários lacônicos dos críticos, mas posso dar stop e deixar para lá, sem me lamentar por ter pago uma exorbitante quantia em um ingresso, enfrentado uma fila, comprado um combo de pipoca gigante com meio litro de refrigerante, etc. Ainda que muitos aleguem a emoção e a experiência que o cinema proporciona, nada me move da zona de conforto de poder chorar, repetir a cena ou ainda ver o bônus, com entrevistas e bastidores que tanto atiçam a minha curiosidade. Tudo isso quando eu quiser, onde eu quiser e com ou sem alguém, é final feliz garantido e o ingresso mais bem pago que há.


Um comentário:

  1. Te compreendo, pois também não gosto de cinema. E olha que sou ator e já produzi documentário. Aquela tela enorme na minha frente e o breu total da sala me dão fobia. Ainda prefiro ir ao teatro.

    ResponderExcluir