domingo, 26 de março de 2017

OS MEDOS DE IVOR

"Viver com medo é deixar de experimentar as maravilhosas surpresas contidas nas possibilidades." (V. Silva)


Eu poderia escrever tanta coisa sobre esse senhorzinho e seu medo de cair, falhar, se partir e perder, mas a primeira ideia que vem à minha mente é que sempre correremos riscos. Nunca estaremos 100% seguros em algum lugar ou na companhia de alguém, mesmo que nos seja muito querido. Mesmo tentando fazer as melhores escolhas, e isso com o passar da idade a gente acha até que faz melhor um pouco, amizades podem acabar, desilusões e desencantos podem surgir sem hora marcada.

"As coisas são como tem que ser", disse o terapeuta a um amigo que ainda não está feliz onde e como está, e que tem o desejo de migrar. E quando ele começa a me relatar os vários pontos positivos de seu provável novo endereço, vai logo listando uma série de vantagens já prontas e bem definidas, de um jeito que não dá brecha para argumentos. E eu costumo brincar: você é o rei das possibilidades! Este meu amigo me lembra Ivor, personagem do curta que migrou até perceber que a gente pode frustar nossas próprias expectativas, inclusive em coisas tão pequenas como não conseguir zelar de algo ao qual temos apreço. E se...e se...e se...Parece que se passam muitos "e se..." na visão dele, que não perde tempo e já trata de se mudar para um lugar aparentemente mais seguro.

Na última tentativa, o que está pior pode piorar e ele perde o pouco controle que ainda achava que tinha. Mas aí chegamos num ponto de mutação: Ivor não pode nem tem mais o que temer, se desapega do que tanto protegia, retira as faixas (fitas adesivas) e expõe as cicatrizes (cacos), partindo-se por inteiro e integrando-se a uma nova realidade melhor do que ele imaginava. O desapego e a aceitação da vida como ela é foram a cura para os seus medos e a abertura do seu olhar para ver outras paisagens.

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