terça-feira, 5 de dezembro de 2017

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA


"Nos fins de tarde, eu pegava tomate ou limão, tacava sal e ficava ali saboreando minhas invenções culinárias até o sol se pôr. Para enganar a fome enquanto o jantar não saía, comia cenoura crua. Também amava doces, claro. Cheguei a devorar colheradas de açúcar diretamente do pote, num momento de distração dos adultos de plantão - bobinhos.

Até que um dia o salmão virou ômega 3, as cenouras se transformaram em betacaroteno e o açúcar mudou o RG para carboidrato. Comer passou a ser um negócio complicado. Os tomates sumiram do meu prato e, no lugar deles, apareceram licopenos Minhas batatas fritas, que eu saboreava com arroz, feijão, bife e salada, se tornaram criminosas. Vi minha vida passar diante dos meus olhos quando soube que aquelas belezinhas crocantes por fora e macias por dentro tinham um monte de gordura e isso não era legal. Comecei a comê-las escondida de mim mesma e fingindo que não pensava nelas diante de um filé de peito de frango grelhado - aliás, me desculpe, o correto é dizer proteína magra.

Alguém mordeu a maçã do pecado original da alimentação e nos condenou às vitaminas e aos antioxidantes. Só pode ser. Mas eu me libertei e estou aqui para dar meu testemunho."

* Extraído do livro "Prato Sujo - como a indústria manipula os alimentos para viciar você" - Márcia Kedouk

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