“Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim…” (Clarice Lispector)
Dia desses estava na minha TV Tube e pintou sugestão do Programa Todo Seu. Pauta musical do dia: The Platters. Olha aí o pessoal de Smoked in your eyes que eu copiei da Georgia! Ronnie Von estava todo emocionado de recebê-los e eu parti logo pra busca para saber como eles existem/resistem na cena até hoje. Nessa busca achei uma versão para Chove Lá Fora de Tito Madi, um dos precursores da Bossa Nova quando ela ainda nem tinha esse nome.
A canção está registrada em Les Platters Autour du Monde, álbum de 1958, apenas um ano após ter sido lançada no Brasil. Quem assina a versão é ninguém menos que Buck Ram, autor de Only You.
Conheci El Debarge através de musicões de FM (All this love), e mais tarde flanando pela web com a interpretação de Dindi nos vários compilados de "Bossa Brazil" que existem no YouTube. Dindi, que não foi nenhuma musa e sim uma fazenda próxima a Petrópolis chamada Dirindi, de onde se extraiu o diminutivo e a inspiração pela vasta paisagem com morros e riachos num vilarejo que a família Tom Jobim tinha propriedade, é um dos clássicos que o mestre fez em parceria com Aloysio de Oliveira.
Muitos já gravaram Dindi em português e alguns se arriscaram em inglês. Durante esta pesquisa descobri que essa versão tocou na novela global Por Amor, e agora imagino os cenários leblonianos que fizeram parte do combo cidade maravilhosa para exportação. Confira o áudio à la passeio na Zona Sul do Rio e a versão do letrista Ray Gilbert:
Sky, so vast is the sky with far away clouds just wandering by Where do they go? Oh I don't know, don't know Wind that speaks to the leaves Telling stories that no one believes Stories of love belong to you and to me Oh, Dindi If I only had words I would say All the beautiful things that I see When you're with me Oh my Dindi Oh Dindi Like the song of the wind in the trees That's how my heart is singing Dindi That would be me without you, my Dindi Oh, my Dindi Oh, Dindi If I only had words I would say All the beautiful things that I see When you're with me Oh my Dindi Don't you know, don't you know Don't you know, Dindi I'd be running and searching for you Like a river that can't find the sea That would be me without you, my Dindi Oh, my Dindi That would be me, Dindi Where would I be, Dindi? Where would I be, Dindi? Oh, Dindi (that would be me, Dindi) I'd flowing like a river can't find the sea That would be me, baby Without you, without you, Dindi I want you to know I love you so, baby I love you
Por que demorei tanto para ouvir Olivia Ong? Por que não dei ouvidos à dica de Ianni? A voz dessa intérprete casa perfeitamente com a Bossa Nova, fazendo as honras dos japoneses que são apaixonados pelo gênero até mais que os brasileiros. Apesar de ser natural de Singapura, ela é contratada de uma gravador japonesa e canta em inglês e japonês.
Seus trabalhos com Bossa Nova são A Girl Meets Bossa Nova vol.1 e 2, onde ela interpreta de Justin Bieber a Frank Sinatra. A minha preferida é a versão de Samba de uma Nota Só ou One Note Samba do mestre Tom Jobim em parceria com Newton Mendonça.
Built upon a single note Other notes are bound to follow, But the root is still that note Now this new one is the consequence, Of the one we've just been through As I'm bound to be the unavoidable consequence of you
There's so many people who can talk and talk and talk and just say nothing, Or nearly nothing I have used up all the scale I know, And at the end I've come to nothing, Or nearly no- thing So I came back to my first note, As I must come back to you I will pour into that one note, All the love I feel for you Anyone who wants the whole show, Re mi fa sol la si do He will find himself with no show, Better play the note you know
Continuando na linha dos gringos que nos amam, meu caro amigo Youtube me apresentou há us anos atrás a lindíssima versão Bridges de Travessia do Milton Nascimento, gravada por Sarah Lois Vaughan ou a "divina do jazz", que era apaixonada por música e músicos brasileiros. Em 1978 ela lançou essa versão no disco feito com músicas de Milton, Dori Caymmi, Tom Jobim e Marcos Valle, intitulado "O Som Brasileiro de Sarah Vaughan", primeiro da trilogia seguido por “Exclusivamente Brasil” (1979) e “Brazilian Romance” (1987). Segue o relato detalhado do disco e das gravações aqui, além da versão feita pelo letrista Gene Lees:
I have crossed a thousand bridges In my search for something real There are great suspension brigdes Made like spider webs of steel There are tiny wooden trestles And there are bridges made of stone I have always been a stranger And i've always been alone There's a bridge to tomor...row There's a bridge from the past There's a bridge made of sorrow That i pray will not last There's a bridge made of colors In the sky high above And i think that there must be Bridges made out of love I can see her in the distance On the river's other shore And her hands reach out longing As my own have done before And i call across to tell him Where i believe the bridge must lie And i'll find it, yes i'll find it If i search until i die
When the bridge is between us We'll have nothing to say We will run through the sun light And i'll meet him halfway There's a bridge made of colors In the sky high above And i'm certain that somewhere There's a bridge made of love
No artigo do El País intitulado "A travessia de Milton Nascimento" há as seguintes curiosidades sobre a obra-mãe: "o título de Travessia, canção com letra de seu amigo Fernando Brant, foi extraído do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa: é a última palavra do livro. Com ela Milton Nascimento se apresentou no Festival Internacional da Canção (FIC) e se tornou conhecido no Brasil. Existem gravações de Travessia–em inglês, Bridges, de Sarah Vaughan, Tony Bennett ou Björk. Também foi cantada por Elis Regina, que chegou a dizer que, se Deus tinha voz, era a de Milton." Apesar desses vários intérpretes, ainda me encanta a química do grande encontro desses dois monstros que souberam fundir suas vozes nessa linda e única versão.
Eu sou uma pessoa declaradamente amante da arte "música", mas como já mencionei aqui no blog algumas vezes eu não cresci tendo acesso a discos nem vitrolas. Quando eu tinha oportunidade de pegar num disco na casa de alguma colega da escola, eu lia a ficha técnica, cada letra de música e até o que vinha escrito no meio do bolachão. Eu tratava o disco como se fosse uma relíquia, o que na verdade são para mim até hoje.
Muito tempo mais tarde com a chegada da internet foi que eu pude descobrir que muitas canções que amo são versões muito bem feitas (outras nem tanto!) por pessoas que são feras nisso, e que eu vi o nome se repetindo nos encartes. Nos discos da Xuxa e Patrícia Marques, por exemplo, só dava Michael Sullivan e Paulo Massadas. De Smoked in your eyes de Ray Conniff a Black Orchid do Steve Wonder, para público infantil ou para os melo-românticos, esses caras estavam em tudo!
Com a chegada do Youtube a minha busca só aumentou, e tenho feito novas descobertas e tenho tido gratas surpresas, pois a música é universal e as letras e ondas correm numa pista de mão dupla. Foi assim que acabei cruzando com Esquinas de Djavan numa versão intitulada "So You Say" gravada em 1987 pelo grupo vocal americano The Manhattan Transfer no álbum Brasil. A versão feita por Amanda McBroom ficou bem parecida, e o instrumental e vocal à altura, dando ênfase ao sentimento de solidão e reflexão que a obra transmite.
So you say It's a feeling I'll get over someday So you say So you say I should try Just to let the flame inside me die I should try So you say Against the wind With my face turned to the empty side Of loneliness Midnight black and blue
So you say That the world will keep on turning So you say So you say Tell me why All the stars have lost their mystery now Tell me why Tell me how Where love has been The taste of wine Seems to linger on like distant perfume And all of the memories Carelessly left behind Ghosts and lies They haunt me wherever I go
So you say That the pain of love will pass away So you say So you say
Before goodbye I look for the fire behind your eyes But they're cold as ice I hear in your voice The echo of love that's gone by Now I cry I'll love you for all of my life
So you say It's a feeling I'll get over someday So you say So you say
Segundo Adriana Fiuza Meinberg em seu artigo "A tradução da canção popular", "à primeira vista, tem-se a impressão de a tradução ter ignorado por completo a letra da canção original criada por Djavan, o que restringe a análise do trabalho de versão ao aspecto conteudista. Contudo, um olhar menos apressado acaba nos revelando que a versionista optou por realizar uma tradução homofônica, privilegiando a sonoridade do texto poético da língua de partida e marcando o valor atribuído à música que acompanha esta letra...A versionista, percebendo a função fundamental deste verso, optou por traduzi-lo pelo verso So you say, mantendo a homofonia, elemento por ela eleito como aquele a ser privilegiado em sua versão.