sábado, 28 de dezembro de 2019

QUEM SOMOS E PARA QUEM SOMOS?


"Somos quem o mundo pensa quem somos e, às vezes, não somos. 
Decidimos quem somos, quando queremos e quem queremos que saiba". 
(Filme O Maior Amor do Mundo)


No filme "O maior amor do mundo" ou "Mother's Day" Julia Roberts interpreta Miranda Collins, uma celebridade que reencontra sua filha doada após uma gravidez não planejada. Num dos momentos em que ela está processando todos os sentimentos envolvidos acerca dessa novidade, seu produtor diz essa frase acima, fazendo alusão a ela sair do personagem e assumir sua condição de mãe e avó publicamente e se abrir a uma nova fase, para além dos holofotes e da fama. 

Curiosamente, enquanto buscava mais informações sobre o filme, me deparei com uma descrição de um blogueiro que achei bem interessante e de um autor que já foi campeão de citações no Facebook:

"Não sou para todos. Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias!" (Caio Fernando Abreu)

As duas citações caminham em pistas opostas, pois enquanto a primeira me fez pensar em toda exposição gratuita da vida nas redes sociais, muitas vezes no estilo "me note!", a segunda me lembra a privacidade tão preciosa, o nosso infinito particular que deve ser seletivo a fim de estabelecer um limite entre quem entra e para quem a gente só acena da janela.

"Somos quem o mundo pensa quem somos...", mesmo que tentemos em vão provar que somos melhores, mais nobres e mais fortes. Podemos passar a vida inteira tentando provar quem somos e de nada irá adiantar, pois o outro vê o que que ver a nosso respeito. 

"Decidimos quem somos, quando queremos e quem queremos que saiba"...acho que sem perceber, ou querendo mesmo, os atores das redes sociais fazem a festa no filtros e efeitos, maquiando a realidade para ela ser mais palatável em alguns momentos. A gente "segue" aquela vida, aquela rotina, mas não percebe que tudo aquilo não diz quase nada sobre a pessoa, ou até diz e diz até demais. Os signos são exaltados a todo instante, e um unfollow ou um like servem de mote para uma tese inteira, para deduções fantasiosas e catalisadoras de futuras inimizades.

Eu não sigo nem tenho nenhuma dessas redes, só possuo este humilde blog, mas não importa: a curiosidade e a partilha da vida alheia chega aos meus ouvidos em prints e áudios. Quantas deduções, quantas revelações inúteis e quanta energia gasta em se ocupar do outro enquanto a própria vida anda meio capenga. Porque o importante não é mais experimentar, viver, sentir, mas compartilhar o sorvete, o corte de cabelo, o novo perfume, o look, etc.

"Não sou para todos. Gosto muito do meu mundinho..." A falsa ideia de bloquear, manipular ferramentas de "ele me segue, mas não vê tudo" é inútil. Não ser para todos custa uma exclusividade a ser exercitada, e isso desperta mais curiosidade ainda. Não ser para todos é manter-se à margem, por fora, longe dos buchichos, das tretas, alheia, e é assim que ainda gosto de ser, porque gosto muito do meu mundo maravilhoso, onde até cabe muita gente, mas só permanecem as que realmente são necessárias!


2 comentários:

  1. Esse texto fala tanto sobre mim... Me identifiquei!

    Em plena Pandemia da COVID-19 (2021) vivo na linha tênue da superexposição ou simplesmente ter as minhas próprias vivências e experiências.

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    1. Algo necessário a ser repensado em tempos fervilhantes de super exposição, não é? Uma pitada de prudência não faria mal, rs.

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