“Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim…” (Clarice Lispector)
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quarta-feira, 16 de abril de 2014
O JEITO LEBLON DE SER
Recentemente assisti a uma reportagem sobre a influência das novelas brasileiras em Moçambique. Já se criou até o termo "brazilian way of life" pra definir o impacto que a enxurrada de programas de TV tem causado nas comunidades fãs das novelas e da versão fantasiosa que é transmitida do nosso país. Na reportagem destacaram-se as novelas gravadas no Leblon, e qualquer pessoa que passe apenas uma vez em frente a TV por semana, mesmo durante os comerciais, sabe que as novelas de Manoel Carlos e suas Helenas são mais fantasiosas do que qualquer enredo de Maria do Bairro. Essas novelas tem encantado e influenciado as jovens e mulheres moçambicanas com os romances de gente branca, fina e de bem com a vida, e eu torço para que elas logo percebam que nas novelas de Manoel Carlos, como em outras do gênero global:
# as pessoas não pegam nem passam horas no ônibus nem no metrô, mas andam de taxi com tarifa zero não importa a distância;
# as mulheres dormem e acordam maquiadas e penteadas;
# essas mesmas mulheres, mesmo tendo um emprego de classe média, moram em apartamentos com quartos maiores que a suíte master do Copacabana Palace;
# os quartos são quase do tamanho do apartamento inteiro e tão grandes que daria para fazer cooper só em torno da cama e hidroginástica na banheira;
# quando os personagens não moram em apartamentos é porque moram em mansões e passam o dia tomando café na cama ou no analista ou na piscina;
# as empregadas domésticas, babás, motoristas e porteiros são quase sempre negros e/ou pobres;
# as pessoas trabalham só meio expediente e o restante do dia passam na praia limpa e bem frequentada;
# uma mulher é disputada por dois homens ou um homem é disputado por duas mulheres e apenas um é escolhido no final;
# traição e troca de parceiro, inclusive por outro do mesmo sexo, é coisa bem comum e as pessoas são modernas para aceitarem isso numa boa, sem conflitos;
# os filhos são mimados e eternamente dependentes dos pais, já que nascem herdeiros e levam a vida numa boa;
# os filhos estudam e vão à faculdade só pra cumprir tabela;
# as pessoas frequentam restaurantes e lanchonetes sem moderação nem contas a pagar;
# quando doentes, os brancos frequentam bons hospitais e os empregados, com muita sorte e gratidão de seus patrões, conseguem uma consulta particular;
# os patrões ou os filhos dos patrões, vira e mexe, dão em cima e dormem com as empregadas;
# raramente um negro se casa com uma mulher branca, e vice-versa;
# os negros geralmente atuam como bandidos e ladrões, ou como aquela parcela-exceção da sociedade que se deu bem sabe-se lá por quê;
# quando os brancos querem fazer uma ação social adotando uma criança negra, dão uma ajuda para a ceia de natal do empregado ou sobem o morro para curtir o baile funk e comprar droga na comunidade;
# quando as empregadas vão à praia é acompanhando suas patroas ou em sua rara folga semanal, e mesmo de folga elas terão que usar o elevador de serviço;
Por fim, desejo que as jovens e mulheres moçambicanas não alisem seus cabelos nem troquem a capulana pela calça jeans, e entendam que no mundo do faz de conta global os negros sempre serão maioria somente nas novelas sobre escravidão.
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