quinta-feira, 6 de setembro de 2012

OS DIÁRIOS DE ETTY HILLESUM

Ela não desejava fugir ao destino do povo judeu; acreditava que só poderia fazer jus à vida se não abandonasse os que estavam em perigo e se usasse sua energia para trazer luz à vida de outros. Contemporânea de Anne Frank, Etty morreu aos 29 anos em Auschwitz em novembro de 1943. Seus diários publicados sob o título "Uma Vida Interrompida" revelam a transformação gradual de uma moça independente, preocupada com os prazeres mundanos, numa mulher de profunda coragem física e espiritual.

 “Quando rezo”, escreve ela, “mantenho um diálogo tolo, ingênuo ou tremendamente sério com o que existe de mais profundo dentro de mim, que eu, por conveniência, chamo de Deus.”  E mais tarde: “E isto provavelmente expressa da melhor maneira meu sentimento frente à vida: eu descanso dentro de mim mesma. E aquela minha parte, a mais profunda e mais rica na qual repouso, é o que eu chamo de Deus.”
“O ódio indiscriminado é a pior coisa que existe; é uma doença da alma. O ódio não se coaduna com minha natureza.”
“A vida é difícil, é verdade, uma luta de minuto a minuto, mas a própria luta é emocionante. Antigamente eu viveria caoticamente no futuro, porque me recusava a viver no dia-a-dia...eu recusava galgar o futuro dando um passo de cada vez. E agora, agora que cada minuto está tão cheio, tão transbordante de vida, de experiência, de luta, de vitória e de derrota, e de mais luta, e às vezes de paz, agora eu não penso mais no futuro, isto é, não mais me importo se “terei sucesso” ou não, porque agora tenho a certeza íntima de que tudo se resolverá a seu tempo. Antes eu vivia sempre por antecipação; tinha a sensação de que nada que fazia era a coisa “real”, que tudo era uma preparação para alguma outra coisa, algo “maior”, mais “autêntico”. Mas esse sentimento desapareceu de mim completamente. Agora eu vivo a hora e a ocasião, este minuto, este dia, integralmente, e a vida vale a pena ser vivida. E se soubesse que iria morrer amanhã, eu diria: é uma grande lástima, mas valeu a pena enquanto durou.”
"A vida não pode ser capturada em uns poucos axiomas. E isto é exatamente o que eu vivo tentando fazer. Mas não funciona, pois a vida é cheia de infinitas nuances que não podem ser capturadas em apenas umas poucas fórmulas."
"Meu Deus, tomai-me pela mão, eu Vos seguirei obedientemente e não resistirei demais. Não evitarei nenhuma das tempestades que a vida me reserva, tentarei fazer face a todas elas da melhor forma que eu puder. Mas de vez em quando concedei-me um breve repouso. Jamais julgarei de novo, em minha inocência, que qualquer paz que me advenha será eterna. Aceitarei todos os inevitáveis conflitos e lutas. Delicio-me com o calor e a segurança, mas não me rebelarei se tiver que sofrer frio, se Vós assim o decretardes. Seguirei onde Vossa mão me levar e tentarei não ter medo. Procurarei distribuir algo de meu calor, de meu verdadeiro amor pelos outros, onde quer que eu vá. Mas nós não devemos nos orgulhar de nosso amor pelo próximo, pois não podemos estar seguros de que ele realmente existe. Não desejo ser nada especial, apenas quero ser fiel àquela parte de mim que procura cumprir sua promessa. Às vezes imagino que anseio pela reclusão conventual, mas sei que devo procurar-Vos no meio do povo, no mundo exterior.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário