Achei esse texto da Martha Medeiros em uma espécie de Caderno 2 do Jornal O Globo, enquanto esperava uma turma se arrumar pra sair. Estava curtindo as férias e admirando a decoração do saguão do Hotel Imperial (ótimo custo-benefício no Rio), quando vi essa iguaria esperando por minha leitura. Cara de pau que eu sou, pedi ao gerente pra levar para ler com mais calma. Afinal de contas, já era segunda-feira e o destino dela seria provavelmente a reciclagem!
"...e só então percebi que, durante a vida, a gente conhece um mundaréu
de pessoas, estabelece variadas trocas de impressões , passei por outras
tribos e tal. São homens e mulheres que chegam bem perto de nosso epicentro, nem
sempre por escolha, mas porque são parentes de alguém, conhecidos de não
sei quem, e que acabam sendo agregados á nossa agenda do celular. Até
que o tempo vai mostrando uma dissimulação aqui, uma maldade ali, uma
energia pesada, e você se dá conta de que alguns não são da sua turma.
Da série de "Coisas que a gente aprende com o passar dos anos”:
abra-se para o novo, mas na hora da intimidade, do papo reto, da
confiança , procure sua turma. É fácil reconhecer os integrantes dessa
comunidade: são aqueles que falam a sua língua, enxergam o que você vê,
entendem o que você nem verbalizou. São aqueles que acham graça das
mesmas coisas, que saltam junto na transcendência, que possuem o mesmo
repertório. São aqueles que não necessitam de legendas, que estão na
mesma sintonia, e cujo histórico bate com o seu. Sua turma é sua
ressonância, sua clonagem, é você acrescida e valorizada. Sua turma não
exige nota de rodapé, nem resposta na última página. Sua turma equaliza,
não é fator de desgaste. Com ela você dança o mesmo compasso, desliza,
cresce se expande. Sua turma é sua outra família, aquela, escolhida.
Não tenho mais paciência com o que me exige atuação, com quem me
obriga a usar palavras em excesso para ser compreendida. Não tenho mais
energia o rapapé, para o rococó, para o servilismo cortês, para o
mise-en-scéne social. Não tenho motivo para ser quem não sou, para
adaptações de última hora, para adequações tiradas da manga. Não quero
mais frequentar estranhos, em cujas piadas não vejo a mínima graça.
Não quero ser apresentada, muito prazer e daí por diante dissecar minha
árvore genealógica, me explicar os nomes dos meus tataravós, defender
posições que me farão passar por boa moça. Não quero mais ser uma
convidada surpresa. Se você mandar eu procurar minha turma, acredite, tomarei como carinho."
“Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim…” (Clarice Lispector)
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Uma escolha maravilhosa!!
ResponderExcluirBelo texto.
Parabens
Sinval
Prazer em conhecer o seu cantinho!
ResponderExcluirConcordo que o seu texto foi uma linda escolha.
Beijinhos