domingo, 25 de fevereiro de 2018

40 ANIVERSÁRIOS


Este poema de Adélia Prado foi publicado no ano que nasci, 1978, em "O coração disparado". Às vezes, acho que foi feito de encomenda muitíssimo prévia para mim, como uma espécie de oráculo.

A mim que desde a infância venho vindo 
como se o meu destino 
fosse o exato destino de uma estrela 
apelam incríveis coisas: 
pintar as unhas, descobrir a nuca, 
piscar os olhos, beber. 
Tomo o nome de Deus num vão. 
Descobri que a seu tempo 
vão me chorar e esquecer. 
Vinte anos mais vinte é o que tenho, 
mulher ocidental que se fosse homem 
amaria chamar-se Eliud Jonathan. 
Neste exato momento do dia vinte de julho 
de mil novecentos e setenta e seis, 
o céu é bruma, está frio, estou feia, 
acabo de receber um beijo pelo correio. 
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome. 

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