quinta-feira, 21 de maio de 2015

NO-TECH


Faz algum tempo que ouvi a seguinte reclamação de uma amiga sobre o marido: "eu não entendo! Ele chega do trabalho e vai para o computador conversar com os colegas de trabalho. Me sinto só!". Pobre Tina, reclamando de um computador de mesa sem saber o que viria a surgir anos depois.

As pessoas me perguntam: quando é que você vai ter um smartphone? E eu respondo que não desejo ter por enquanto, só quando realmente sentir necessidade, o que causa indignação e chacota. Eu já tenho acesso a computadores no trabalho, tenho um em casa e um tabletão que o governo me emprestou. Gosto de tela grande, embora não curta cinema. Não quero ter algo assim para ter mais trabalho e sou do tipo que desliga o celular quando vai dormir, do tipo que ainda vai a uma reunião para ouvir quem está falando lá na frente, do tipo que não lê a bíblia durante a missa por um "black mirror". Vê só a que ponto chegamos: a pessoa se lasca de estudar, passa em um concurso concorrido, adquire a vida que quer ter, oferece amizade ao próximo e vira motivo de piada em restaurante, um lugar que eu deveria ir para comer e me distrair.

Antigamente, celular era algo particular. Hoje, o telefone fixo é que é algo privado, porque a ferramenta que mais se distribui é o whatsapp. "Flávia, é de graça, você tem que ter!". Sim , é de graça, mas a internet não é de graça. É uma falsa ilusão, do tipo pague 2 e leve 3 dos supermercados. Se eu tiver um troço desse, ficarei ligada ao trabalho 24h e correrei o risco de ter minhas falas espalhadas por aí, porque o bacana hoje não é ler um livro, nem plantar uma árvore, e sim falar e repassar as talks do zap-zap.

A nomofobia é algo que acabaria acontecendo em sucessão ao avanço do entretenimento e do advento das redes sociais. Desde que a internet se tornou algo interessante, evoluímos das salas de bate-papo para coisinhas mais coloridas e atraentes, nos mostrando um mundo de possibilidades que existe além mar. O Brasil é líder global em relação ao tempo gasto nas redes sociais. Em média, os usuários navegam cerca de 21 minutos a cada visita. O intervalo é 60% maior do que a média mundial, segundo a empresa de pesquisa de mercado ComScore.

É triste ver o vazio envolvido nessa busca desenfreada de carinho e atenção, o esforço para deixar de ser um pixel na multidão que se aprimora em estar no pódio, em ser estrela cadente pelo menos por 5 segundos e algumas curtidas. Qual a graça de saber tudo o tempo todo sobre todo mundo? O que eu ganho sabendo da vida alheia enquanto minha vida está cheia de pendências? Caridades instantâneas até que o próximo mendigo virtual apareça?


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