quarta-feira, 27 de maio de 2015

SOMOS TODOS HUMANOS?


"Tua cor é o que eles olham, velha chaga
 Teu sorriso é o que eles temem, medo, medo."
 (Beto Guedes)

É lamentável qualquer tipo de preconceito, porque sempre haverá alguém que se acha melhor, que acha que veio de outro planeta e tem odores e poderes especiais. É o que deve achar alguém que olha para uma pessoa negra e a trata com inferioridade. Estou falando isso por causa da atitude dos 3 atletas com cara de burguesinhos que gravaram um vídeo com comentários preconceituosos contra o ginasta olímpico Ângelo Assumpção. É por essas e outras que mesmo sendo contra alguns argumentos, fica clara a necessidade de cotas, porque enquanto houver pessoas com esse comportamento sempre será preciso uma medida compensatória para justificar o injustificável.


MAIO AMARELO


Eu levei muito tempo para estar ao volante, por vários motivos: insegurança, medo, inexperiência e uma cobrança interna por ter vindo de uma casa cheia de bons motoristas. Fiz a autoescola quando realmente senti vontade e com o apoio e incentivo de todos. Não faltou quem se oferecesse para me dar umas aulinhas, desde vizinhos, amigos, parentes ou colegas de trabalho. Mas eu sentia que ainda não era o meu tempo e que isso deveria acontecer no meu carro. As pessoas me diziam: "você tem que sentir o carro!". Que eu saiba, eu sinto amor, dor, fome, vontade de ir ao banheiro, agora um carro (???). Como assim?

Depois de alguns anos dependendo das pessoas para ir e vir, inclusive de muitos atrasos de moto-taxi, criei coragem (!) e coragem ($) e fui à concessionária, depois também de pesquisar tudo que eu queria em um carro e praticamente decorar tudo que nele continha. Eu pensava que seria uma coisa tosca no trânsito, mas depois que convivi com a população que dirige em PA eu realmente vi que não sou tão ruim assim.

Em PA seta não existe (esse povo nunca estudou vetores), sinal vermelho é só um recurso para falar mais tempo ao celular, sinal verde é "corra pra enterrar seu pai" e sinal amarelo é decoração, tipo pisca-pisca de natal. As pessoas aqui que tinham uma bicicleta compraram Shineray, as que tinham Shineray compraram moto e, provavelmente, compraram a carteira. Já estou até treinando meu ouvido para entender se a moto vai cortar pela esquerda ou pela favorita direita, para aceitar que as pessoas não curtem ligar a seta e que meu problema de diferenciar direita/esquerda já foi superado diante do espetáculo de momentos a la Índia.

Ironicamente, em uma cidade como a minha que possui agentes e guardas de trânsito, não vi nada referente a campanha Maio Amarelo. Apenas em pleno fim de maio a conheci em um site não relacionado ao trânsito. Em relação ao tal "sentir", o que sinto mesmo é o cinto de segurança. Infelizmente, John Forbes Nash Jr., 86, cuja vida inspirou o filme Uma Mente Brilhante, morreu em um acidente de carro no último sábado em Nova Jersey pela ausência do cinto de segurança. A esposa, Alice Nash, 82, que o acompanhava, também faleceu.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

NO-TECH


Faz algum tempo que ouvi a seguinte reclamação de uma amiga sobre o marido: "eu não entendo! Ele chega do trabalho e vai para o computador conversar com os colegas de trabalho. Me sinto só!". Pobre Tina, reclamando de um computador de mesa sem saber o que viria a surgir anos depois.

As pessoas me perguntam: quando é que você vai ter um smartphone? E eu respondo que não desejo ter por enquanto, só quando realmente sentir necessidade, o que causa indignação e chacota. Eu já tenho acesso a computadores no trabalho, tenho um em casa e um tabletão que o governo me emprestou. Gosto de tela grande, embora não curta cinema. Não quero ter algo assim para ter mais trabalho e sou do tipo que desliga o celular quando vai dormir, do tipo que ainda vai a uma reunião para ouvir quem está falando lá na frente, do tipo que não lê a bíblia durante a missa por um "black mirror". Vê só a que ponto chegamos: a pessoa se lasca de estudar, passa em um concurso concorrido, adquire a vida que quer ter, oferece amizade ao próximo e vira motivo de piada em restaurante, um lugar que eu deveria ir para comer e me distrair.

Antigamente, celular era algo particular. Hoje, o telefone fixo é que é algo privado, porque a ferramenta que mais se distribui é o whatsapp. "Flávia, é de graça, você tem que ter!". Sim , é de graça, mas a internet não é de graça. É uma falsa ilusão, do tipo pague 2 e leve 3 dos supermercados. Se eu tiver um troço desse, ficarei ligada ao trabalho 24h e correrei o risco de ter minhas falas espalhadas por aí, porque o bacana hoje não é ler um livro, nem plantar uma árvore, e sim falar e repassar as talks do zap-zap.

A nomofobia é algo que acabaria acontecendo em sucessão ao avanço do entretenimento e do advento das redes sociais. Desde que a internet se tornou algo interessante, evoluímos das salas de bate-papo para coisinhas mais coloridas e atraentes, nos mostrando um mundo de possibilidades que existe além mar. O Brasil é líder global em relação ao tempo gasto nas redes sociais. Em média, os usuários navegam cerca de 21 minutos a cada visita. O intervalo é 60% maior do que a média mundial, segundo a empresa de pesquisa de mercado ComScore.

É triste ver o vazio envolvido nessa busca desenfreada de carinho e atenção, o esforço para deixar de ser um pixel na multidão que se aprimora em estar no pódio, em ser estrela cadente pelo menos por 5 segundos e algumas curtidas. Qual a graça de saber tudo o tempo todo sobre todo mundo? O que eu ganho sabendo da vida alheia enquanto minha vida está cheia de pendências? Caridades instantâneas até que o próximo mendigo virtual apareça?


sexta-feira, 8 de maio de 2015

TOP 10: TRECHOS REVISTOS

Às vezes, estou passando por algum lugar, ou estou de molho em algum lugar com som ambiente ou estridente e "plic!ploc!": eis que está tocando alguma coisa do passado ou recente e eu reparo em algum trecho musical que não dava importância, ou passava batido junto com a melodia. Fiz uma lista dos 10 últimos que me inspiraram a escrever esse post.

#1- "eu vou derramar nos seus planos o resto da minha alegria". Adriana Calcanhotto cantou Mentiras em Renascer em 1993. Depois que ela apela de todas as formas, se entrega nessa linda frase.

#2- "amanhã tudo pode acontecer, hoje a nossa vida é pequena". Fagner cantando Cartaz me dá até esperança de meu coração de criança um dia ser tudo o que quer. Essa frase lembra um passeio num dia de sol de Ondina à Barra.

#3- "você é o que resiste ao desespero e a solidão". Sem você, sem Vinícius, sem Chico fica tudo mais difícil,rs.

#4- "E nada existe em você que eu não ame, sou metade sem você". Dessa vez demorei a reconhecer a música que eu nemmm de longe imaginava que pudesse ganhar uma versão longe da breguice fanha de Reginaldo Rossi (que Deus o tenha!). Eu a escutei em um restaurante numa versão música de barzinho, mas Isabela Taviani e Fernanda Takai já regravaram.

#5- "o seu nome acende estrelas pela noite". Esse e outros versos fazem parte da tradução de Dulcinéia cantada no musical O Homem de la Mancha que assisti recentemente.

#6- "Num deserto, sem saudade, sem remorso, só, sem amarras, barco embriagado ao mar". O que eu vi no dia em que fui mais feliz? O que Adriana viu? No inverno ou em dias de sol, essa música é a cara dos meus passeios pela zona sul do Rio.

#7- "Meus olhos lacrimejam seu corpo". Não há mais o que fazer, só lamentar o trágico fim do amor que não deu certo, com direito a uma rima no final que intriga qualquer especialista em gramática.

#8- "Não deixa ideia de não ou talvez, que talvez atrapalha". Não conheço muita coisa de Roberta Sá e demorei pra saber que essa musiquinha de sábado à tarde da JB FM era dela. Desejo que ela componha mais coisas legais que toquem no lugar das músicas bregas que o Domingão do Faustão ensina na forma de karaokê.

#9- "As coisas não precisam de você, quem disse que eu tinha que precisar?". Todo fim passa pelo ritual de Virgem de Marina Lima, para preparar melhor o próximo início.


#10- "E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi". De todas as canções de Legião, essa é um hino. 


quarta-feira, 6 de maio de 2015

O HOMEM DE LA MANCHA


"Pois quem não se aventura com fé e ternura o mundo não pode mudar. 
Não pode o mundo mudar quem não se aventurar". 

Dirigido por Miguel Falabella e encenado por fantásticos atores ao som de uma orquestra impecável, o musical O Homem de la Mancha não deixa a desejar a nenhum famosão da Broadway. Ganhei esse presentaço de meu amigo Vanderlei e o assisti na companhia de Dona Maria, que deu boas risadas comigo. O espetáculo ganhou 3 prêmios em 2014 e merecia ganhar quantas honras fossem concedidas. Fan-tás-ti-co!!!

EAT WELL, TRAVEL OFTEN


Viajar é bom demais e comer bem é ainda melhor! Um dos frutos do trabalho é justamente esse: comer bem, viajar frequentemente ou de vez em quando (essa opção é mais real). Desde pequena meus pais me incentivaram a viajar. Às vezes, eles davam uma travada enquanto eu fazia a mala e eu pedia que eles decidissem logo. Isso me ajudou muito no processo de desapego, de poder ir e vir e de aprender a me defender.

É muito bom ver o mundo lá fora, ver a terra do outro para dar mais valor a nossa. Aprender novos hábitos, provar outros temperos, culturas e respeitar tudo aquilo, ficando só com o me parecer bom. Quando vou a outra cidade, principalmente se for em outra região, costumo ir a dois lugares: supermercado e padaria. Sempre descubro algo novo, seja um doce ou um quitute.

Gosto também de ir ao comércio, ver a vida comum, o cotidiano. Mas voltando ao reino dos comes e bebes, há 3 maravilhosas indicações para quem vai a São Paulo.

#1- Nutrisom: um restaurante vegetariano onde se paga um preço único e se come muito, muuuuito bem. Definitivamente esqueci por algumas horas que eu sou onívora.
#2- Halim: restaurante árabe com tudo que tem direito. Se eu pudesse, teria ido lá várias vezes! 
#3- Ronghe: comida chinesa com direito a tesoura no prato do yakissoba e muitas curiosidades.

Bon voyage e bon appetit!




terça-feira, 5 de maio de 2015

QUEM DISSE, BERENICE?


Não conhecia bem essa marca e achava até que era somente uma linha de alguma marca já consolidada (Grupo O Boticário). O nome é interessante e deve ser prosa do sudeste, porque aqui no nordeste nunca ouvi essa chamada. Há muito tempo quero escrever sobre nomes inusitados ou óbvios de produtos, como Ótica Pupila, Sal Nevado ou coisas similares. Em relação a produtos de beleza então, eu adoro ficar pelas gôndolas do supermercado vendo as novidades, os cruzamentos de ervas e frutas e os nomes impressionantes que dão aos sabonetes, por exemplo.

Mas a marca que intitula este post me surpreendeu completamente. Quando as pessoas me perguntam que perfume eu uso, eu pronuncio umas 5 ou 6 letras que juntinhas já resumem tudo. Mas se eu usar um perfume com os nomes inspiradores abaixo e perguntarem que perfume estou usando podem pensar que eu:

#1- estou lendo um livro e ou falando sozinha;
#2- estou declamando poesia;
#3- estou indicando um filme;
#4- pretendo lançar um livro com esse nome.

Espero um dia provar o que tão charmosos e criativos nomes oferecem no frasquinho:

#1- a noite veste prata
#2- brincando num campo de melancias
#3- o lado doce da laranja
#4- o lado rosa da vida
#5- pra onde levam esses olhos castanhos?
#6- a menina que roubava cerejas
#7- mergulho num céu azul
#8- nuvens dançam sob meus pés
#9- uma ovelha pra lá de negra
#10- meu jardim secreto é mais verde
#11- a flor mais rosa do meu jardim
#12- gabriela mel e pimenta
#13- existe amor na amora
#14- a menina que passa de biquíni goiaba
#15- quem vai pegar o buquê lilás?







segunda-feira, 4 de maio de 2015

AQUI E AGORA (I)


Adaptado ou submisso?

Mudança, adaptação, flexibilidade: Vá! Volte! É hoje! É amanhã! Como viver o aqui e agora em meio a tantas indefinições? Pensava eu que emprego público era coisa certa, certinha e estável. É estável sim, financeiramente falando, mas a rotina passa por intempéries, dias de sol, nevascas e brisa suave. Em meio ao caos, direitos revogados e insatisfação geral,  mais uma greve foi deflagrada. O ano já está em maio e há muito tempo me esqueci do que é o ciclo da carreira de professor que escolhi.

Vivi 11 anos nas universidades, passei por greves e altos e baixos. Corri muito para não atrasar a conclusão de meus cursos. Agora que estou do outro lado, é complicado mostrar ao aluno que a educação pública ainda vale a pena, que ele não terá prejuízos, que no final tudo vai dar certo.

Vivo entre a estabilidade e a inconstância e isso ainda é muito, muito complicado pra mim. A agenda pessoal se dilui, fica sujeita a alterações, igual aos voos da minha última viagem de férias. Cada check-in era uma surpresa: alteração, cancelamento, mudanças sem fim de portão, falta de avisos, troca de aeronave, rotas inesperadas. Acho que eu já devia ter aprendido a não confiar no serviço prestado. Acho que eu já devia ter me adaptado.

ADEUS FARTURINHA

"Não existe presente maior que o amor de um gato.” (Charles Dickens) 

"A vida é finita! Sinto muito..." Esse ano não está fácil. Após a perda de Cristina em janeiro, estou agora enfrentando o luto por meu amado Farturinha. Havia jurado a mim mesma que nunca mais perderia um animalzinho em uma clínica, e sim em casa. Arranjei veterinário particular, gastei tudo que era necessário, mas chegou o dia dele.

É difícil amar, cuidar e saber que um dia eles vão embora. Ele morreu por conta do seu instinto de brigar e defender o território, mesmo castrado. Ele cuidava até dos menores que se agregaram à casa depois dele, deixava que eles comessem primeiro, protegia, zelava do ambiente para que nenhum gato intruso perturbasse a ordem do quintal.

Ele foi o gato mais lindo de todos, meu gato-coelho, o mais querido da família e da parentada que sempre registrava um flash. Ele foi o mais fotografado, o mais cuidado, o que mais teve concessões, mas não resistiu às sequelas de uma briga terrível. Meus pais cansaram de apartar suas brigas com os monstros da vizinhança. Pra lutar com Fartura tinha que ter tamanho, pois apesar de sua doçura, seus quase seis quilos eram por si só uma ameaça.

Não assisti à sua partida para o céu dos animais e foi melhor assim, porque antes eu já estava abalada, deprimida por vê-lo sofrer. Por amá-lo mais que aos demais, voltei um pouco fria e distante com os que ficaram e pretendo aos poucos doá-los a quem possa cuidar deles como crianças, que é como eu cuido.

Fica o adeus e a saudade do meu sempre insubstituível Farturinha.

Antes da castração, fazendo o que mais gostava: dormindo.